Memórias literárias se constituem num gênero
textual que mostra uma época com base em lembranças pessoais. Embora a
realidade seja a base, há liberdade para recriar as situações ou os fatos narrados.
Podem ser escritas a partir de uma
vivência pessoal ou com base no depoimento de uma pessoa, neste caso o autor
transforma o relato num texto em primeira pessoa, como se os fatos tivessem
acontecido com ele.
O texto abaixo é de Manoel
de Barros é um dos maiores poetas brasileiros. Pensado inicialmente para ser
uma autobiografia, o livro do qual esse texto foi retirado retrata o período da
infância do poeta. Escrito em prosa poética, o texto traz a marca do autor:
brincar com as palavras.
Sobre sucatas
Isto porque a gente foi criada em
lugar onde não tinha brinquedo fabricado. Isto porque a
gente havia que fabricar os nossos
brinquedos: eram boizinhos de osso, bolas de meia, automóveis de lata. Também a gente fazia de conta que
sapo é boi de cela e viajava de sapo. Outra
era ouvir nas conchas as origens do mundo. Estranhei muito quando, mais tarde,
precisei de morar na cidade. Na cidade, um
dia, contei para minha mãe que vira na Praça um homem montado num cavalo de pedra a mostrar uma faca
comprida para o alto. Minha mãe corrigiu que não era uma faca, era uma espada. E que o homem era
um herói da nossa história. Claro que eu
não tinha educação de cidade para saber que herói era um homem sentado num
cavalo de pedra. Eles eram pessoas antigas da
história que um dia defenderam a nossa Pátria. Para mim aqueles
homens em cima da pedra eram sucata. Seriam sucata da história. Porque eu
achava que uma vez no vento esses homens
seriam como trastes, como qualquer pedaço de camisa nos ventos. Eu me lembrava dos espantalhos vestidos
com as minhas camisas. O mundo era um
pedaço complicado para o menino que viera da roça. Não vi nenhuma coisa mais
bonita na cidade do que um passarinho. Vi que
tudo o que o homem fabrica vira sucata: bicicleta, avião,
automóvel. Só o que não vira sucata é
ave, árvore, rã, pedra. Até nave espacial vira sucata. Agora eu penso uma garça branca do brejo ser mais
linda que uma nave espacial. Peço desculpas
por cometer essa verdade.
BARROS, Manoel de. Memórias inventadas: As infâncias de Manoel de Barros. São Paulo:
Editora Planeta do Brasil, 2010.
ATIVIDADES
Através das lembranças
do tempo de criança, ficamos sabendo algumas informações sobre o narrador:
1. Como eram seus brinquedos?
2. Onde
o narrador passou a primeira parte de sua infância?
3. Para ele, o que é mais importante ou mais
bonito, uma estátua de bronze ou um simples passarinho? Justifique sua resposta
retirando um trecho do texto.
4.
Pelo que o menino conta
à mãe e pela resposta que ela lhe dá, você sabe o que é?
5.
- No trecho “Eles eram pessoas antigas da história que um dia defenderam a nossa
Pátria.”, a que se refere o vocábulo “Eles”, em destaque?
6.
– Indique se cada trecho abaixo é uma OPINIÃO ou um FATO:
“(...) a gente foi
criada em lugar onde não tinha brinquedo fabricado.” _______
“Para mim aqueles
homens em cima da pedra eram sucata.” _____________
“Não vi nenhuma coisa mais bonita na cidade que um passarinho”
_________
Produção de texto
Apesar de você ser
jovem, deve ter algumas lembranças bem interessantes da infância. Escolha uma delas para escrever um pequeno
texto, no estilo do texto de Manoel de Barros, ou seja, relembre, recrie,
reinvente com uma pitada de poesia.
Muito bom, me ajudou d+! Obrigada.
ResponderExcluire bom
ResponderExcluirÓtimo trabalho!!! Gosto muito das suas atividades e uso algumas em minhas aulas. Será que poderia me enviar o gabarito dessa atividade?
ResponderExcluirOi tentei te mandar, se não receber, mande seu email...
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