Bruxas não existem
Moacyr Scliar
1ª PARTE
Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas
que passavam o tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também
acreditavam nisso. A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona
que morava numa casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era
Ana Custódio, mas nós só a chamávamos de "bruxa".
Era muito feia, ela; gorda, enorme,
os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, ela tinha uma enorme verruga
no queixo. E estava sempre falando sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas
tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando
venenos num grande caldeirão.