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A maioria das atividades é de fácil resolução, indico sempre que o professor o faça primeiro para ver o aplicabilidade em determinada turma. Como os pedidos de gabaritos são muitos, não tenho como responder a todos.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Esse texto faz parte da coletânea da OlimpÍada de Língua Portuguesa, de Memórias Literárias (Se bem me lembro...para 7º e 8º anos). Que tal aproveitar o texto para fazer uma interpretação? O link para o gabarito encontra-se após as questões.

 PARECIDA MAS DIFERENTE

O pai de Zélia Gattai costumava contar a história de como sua família havia vindo da Itália para o Brasil. Uma vez, quando ele narrava a viagem dos Gattai – que era o nome da família de seu pai -, Zélia, então menina, observou que Eugênio, seu avô materno, escutava atentamente. Então, pediu a ele que também contasse a história da família da mãe, os Da Col.

            Vovô veio da Itália com toda a família, contratado como colono para colher café numa fazenda em Cândido Mota, em São Paulo. Nona Pina passou a viagem toda rezando, pedindo a Deus que permitisse chegarem com vida em terra. Tinha verdadeiro pavor de que um dos seus pudesse morrer em alto-mar e fosse atirado aos peixes. Carolina ressentiu-se muito da viagem, estranhou a alimentação pesada do navio, adoeceu, mas desembarcaram todos vivos no porto de Santos.
A família fora contratada por intermédio de compatriotas do Cadore, chegados antes ao Brasil. Diziam viver satisfeitos aqui e entusiasmavam os de lá através de cartas tentadoras: “Venham! O Brasil é a terra do futuro, a terra da ‘cucagna’... pagam bom dinheiro aos colonos, facilitam a viagem...”
 Com os Da Col, no mesmo navio, viajaram outras famílias da região, todos na mesma esperança de vida melhor nesse país promissor. Viajaram já contratados, a subsistência garantida.
 Em Santos, eram aguardados por gente da fazenda, para a qual foram transportados, comprimidos como gado num vagão de carga.
Ao chegar à fazenda, Eugênio Da Col deu-se conta, em seguida, de que não existia ali aquela ‘cucagna’, aquela fortuna tão propalada. Tudo que ele idealizara não passava de fantasia; as informações recebidas não correspondiam à realidade: o que havia, isto sim, era trabalho árduo e estafante, começando antes do nascer do sol; homens e crianças cumpriam o mesmo horário de serviço. Colhiam café debaixo de sol ardente, os três filhos mais velhos os acompanhando, sob a vigilância de um capataz odioso. Vivendo em condições precárias, ganhavam o suficiente para não morrer de fome.
A escravidão já fora abolida no Brasil, havia tempos, mas nas fazendas de café seu ranço perdurava.       
             Notificados, certa vez, de que deviam reunir-se, à hora do almoço, para não perder tempo de trabalho, junto a uma frondosa árvore, ao chegar no local marcado para o encontro, os colonos se depararam com um quadro deprimente: um trabalhador negro amarrado à árvore. A princípio, Eugênio Da Col não entendeu nada do que estava acontecendo, nem do que ia acontecer, até divisar o capataz que vinha se chegando, chicote na mão. Seria possível, uma coisa daquelas? Tinham sido convocados, então, para assistir ao espancamento do homem? Não houve explicações. Para quê? Estava claro: os novatos deviam aprender como se comportar; quem não andasse na linha, não obedecesse cegamente ao capataz, receberia a mesma recompensa que o negro ia receber. Um exemplo para não ser esquecido.
O negro amarrado, suando, esperava a punição que não devia tardar; todos o fitavam, calados.
De repente, o capataz levantou o braço, a larga tira de couro no ar, pronta para o castigo. Então era aquilo mesmo? Revoltado, cego de indignação, o jovem colono Eugênio Da Col não resistiu: não seria ele
quem presenciaria impassível ato tão covarde e selvagem.  
Impossível conter-se!
            Com um rápido salto, atirou-se sobre o carrasco, arrebatando-lhe o látego das mãos.
Apanhado de surpresa, diante da ousadia do italiano, perplexo, o capataz acovardou-se. O chicote, sua arma, sua defesa a garantir-lhe a valentia, estava em poder do ‘carcamano’; valeria a pena reagir? Revoltado, fora de si, esbravejando contra o capataz em seu dialeto dos Montes Dolomitas, o rebelde pedia aos companheiros que se unissem para defender o negro. Todos o miravam calados. Será que não compreendiam suas palavras, seus gestos? Certamente sim, mas ninguém se atrevia a tomar uma atitude frontal de revolta. Católico convicto, ele fazia o que lhe ditava o coração, o que lhe aconselhavam os princípios cristãos...
De repente, como um passe de mágica, o negro viu-se livre das cordas que o prendiam à árvore. O capataz apavorou-se. Quem teria desatado os nós? Quem teria?
            O topetudo não fora, estava ali em sua frente, gesticulando, gritando frases incompreensíveis, ameaçador, de chicote em punho... O melhor era desaparecer o quanto antes, rapidamente: “esses brutos poderiam reagir contra ele. A prudência mandava não facilitar”.
Nessa mesma tarde, a família Da Col foi posta na estrada, porteira trancada para “esses rebeldes imundos”. Estavam despedidos. Nem pagaram o que lhes deviam. “Precisavam ressarcir-se do custo do transporte de Santos até a fazenda...” E fim.
Pela estrada deserta e infinita, seguiu a família, levando as trouxas de roupas e alguns pertences que puderam carregar, além da honradez, da coragem e da fé em Deus

(GATTAI, Zélia. Anarquistas graças a Deus. 11. ed. Rio de Janeiro, Record, 1986, p. 160-162)

Atividades

  1. Após a leitura identifique as palavras que você desconhece, tente descobrir seu significado pelo sentido que é usado no texto, caso seja necessário, procure-as no dicionário.
  1. Qual é o assunto tratado?
  1. Esse texto pertence ao gênero: (  ) biografia  (  ) relato histórico   (  ) memórias literárias  (  ) conto   
  1. Qual época da história do Brasil é retratada nesse texto? 
  1. Qual é o fato principal narrado, que muda os planos da família Da Col?
  1. Qual era a imagem do Brasil para os italianos que pensavam em vir para cá a trabalho? 
  1. Qual o meio de transporte usado naquela época para chegar ao Brasil? E como eles chegavam até as fazendas?
  1. a) Quando o Sr. Eugênio percebe que as informações sobre o trabalho nas fazendas não era o que lhe disseram?
          b) Como era realmente a situação dos trabalhadores?
  1. Através da leitura, conhecemos algumas  características do Sr. Eugênio. Cite ao menos três delas.
  1. Pelo contexto, o significado de “cucagna” é:
            (    ) fazenda           (     )  comida               (     )  fartura                      (     ) plantação de café

  1. Qual o foco narrativo do texto?

  1. a) Os acontecimentos narrados no texto são da mesma época em que foram escritos? Justifique
b)O que serviu de base para a produção desse texto?

GABARITO clique aqui

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