Outro texto finalista de 2010. Na leitura, explorar a linguagem poética, as metáforas. Eu recomendo que os alunos procurem as palavras desconhecidas no dicionário, mas não acharam "jorna" ou não com o sentido usado no texto. Pesquisei e descobri que é moinho feito em madeira muito usado por imigrantes poloneses e ucranianos no interior do Paraná.
Como nos velhos tempos
Aluna:
Taynara Leszcgynski
Os
momentos passam, as pessoas se vão, a vida muda, o progresso aumenta, e de minha tão amada época só ficaram lembranças. Minha
casa era pequena, um berço de humildade, construída
com madeira lascada de pinheiro, não existia energia elétrica, tínhamos apenas um lampião de querosene. Éramos pobres, mas
vivíamos num lar feliz, apesar das dificuldades em até
conseguir o que comer.
No
quintal havia um paiol onde guardávamos o pilão, feito de um tronco de madeira maciça escavada, onde socávamos amendoim para fazer
paçoca. Tinha também o monjolo d’água e a jorna, que
usávamos para fazer farinha e quirera.
Sempre após as chuvas minha mãe ia plantar na horta. Eu a acompanhava, levando a enxada, para ajudar a capinar. O cheiro de terra molhada e o azul do céu se misturavam com as cores dos ipês, despertando magia, e formavam uma aquarela de fantasia, que tomava minha mente e fazia de mim um pássaro, um menino livre, pronto para realizar meus sonhos.
Mal
via a hora de chegar o domingo, reunir meus amigos, esquecer do mundo e
brincar.Nossas brincadeiras eram simples, porém muito divertidas. Brincávamos
de trilha, búlica, esconde-esconde, pular
corda, lenço atrás, peteca feita com pena de galinha e palha de milho, bocha com bola feita de tronco de varaneira e
carrinhos feitos de tabuinhas.
Às
vezes meu pai e minha mãe iam passear à casa de meus avós. Eu e meus irmãos íamos junto. A viagem durava o dia inteiro, o
percurso era longo, a estrada, cercada por uma
bela mata ainda pura. Quando a escuridão já tomava seu lugar, chegávamos. A lua clareava o céu, meu pai fazia uma fogueira no meio do
terreiro, eu e meus irmãos puxávamos uns bancos e sentávamos
todos em volta da fogueira, observando as estrelas e escutando as piadas, prosas e causos contados por meu avô.
Quando
alguém adoecia, minha avó preparava seus chás; se não estivessem fazendo efeito, meu pai calçava alpargatas e esporas,
colocava os arreios no cavalo, e saía a galopar em
busca de curandeiros ou benzedeiras. Para ir mais rápido, ele e seu tordilho
iam pelos carreiros do meio da
mata, percorriam longos caminhos até chegar ao destino.
Em
meio a tantas dificuldades, até hoje moro na cidade de Santa Maria do Oeste, as barreiras aos poucos foram sendo enfrentadas e, com
muita luta, vencidas.
De
minha juventude, recordo-me bem; jogava truco e pife nos torneios. Nos bailes,
chimangos e quermesses podiam se
ver todos os rapazes e as mocinhas embalados pelo vaneirão e fandango. Eu tocava gaita, sanfona, fazia chorar a
viola, fazia gemer o fole da cordeona. Minha
felicidade era ver a animação do povo, cantando, dançando, divertindo-se.
Hoje
minha alegria é sentar no banco da varanda e tomar meu chimarrão. O vento assovia e traz a saudade que me faz lembrar de minha
querência, de minhas raízes, de minha religião.
Lembranças
que estavam adormecidas aos poucos vão despertando e renascendo em mim como em um filme. A magia se mistura com a
saudade e por um instante sinto como se ainda fosse criança.
Mas eis que um forte impulso me puxa. É a realidade que me avisa: “O passado não vai voltar”. Vejo então que toda essa
fantasia é fruto da imensa saudade que teima
em me perseguir.
E,
como dizia uma velha música, “meu chapéu é de palha, meu chicote é de couro.
Sim, sou caipira filho de
canarinho, neto de sabiá”. Guardo essas minhas histórias em minha memória dentro de meu coração, pois espero que nossa
cultura não morra e que se renove de geração para
geração. Coisa rara em meio a tantas evoluções. Só desejo que o progresso não mate nossos sentimentos, nem domine nossos
corações.
(Texto baseado na entrevista feita com o
sr. José Leszcgynski, 66 anos.)
Professora: Julieta Maria Cartelli Simon
Escola: Colégio Estadual José de Anchieta
• Cidade: Santa Maria do Oeste – PR
Após ler o texto, responda:
1.No texto aparecem muitas palavras
desconhecidas, mas que fazem parte da vivência ou cultura do narrador.
a) Sublinhe-as.
b) Se que você não compreender o significado pelo contexto, use o
dicionário.
2.
De quem é a história contada nesse texto?
3.
Como era o lugar onde essa pessoa passou
sua infância? Em que cidade e estado ficava?
4.
Apesar da pobreza, o menino era feliz e tinha sonhos? Retire do texto um trecho que justifique essa afirmativa.
5.O
domingo era um dia especial, por quê?
6.
Na visita aos avós, qual momento era especial para toda a família?
7.
O que sabemos sobre a juventude do narrador?
8.No
texto o narrador fala de uma vida cheia de lutas, mas também sobre suas
alegrias ou felicidade. Cite dois motivos de alegria para cada etapa de sua
vida:
Infância
|
|
Juventude
|
|
Velhice
|
|
9.Relacione
o penúltimo parágrafo com o título.
10. Dos fatos
contatos, qual você achou mais interessante? Por quê?
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