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A maioria das atividades é de fácil resolução, indico sempre que o professor o faça primeiro para ver o aplicabilidade em determinada turma. Como os pedidos de gabaritos são muitos, não tenho como responder a todos.

sábado, 12 de setembro de 2015

O homem cuja orelha cresceu - Interpretação de texto

O conto de Ignácio de Loyola Brandão, além da sugestão de interpretação que segue após o texto,  é muito interessante para se trabalhar a narrativa fantástica, os elementos da narrativa e os recursos utilizados para prender a atenção do leitor. Professores que queiram conferir o gabarito, basta enviar email, ou pedir nos comentários, mas por favor, deixem seus emails para respostas, mesmo se tiver Google +.


O homem cuja orelha cresceu

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu. Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.
Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.
E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?”
 ("Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão”, Global Editora, 1993, pág. 135.)

Atividades

1. Qual é o foco narrativo empregado no texto?

2. No primeiro parágrafo é possível obter várias informações sobre a personagens. Identifique-as.

3. Na história é desenvolvida em vários ambientes. Numere os espaços na ordem que aparecem na narrativa.
(  ) rua    (   ) quintal    (   ) escritório     (    ) quarto da pensão      (    ) corredor

4.A única personagem do texto que ataca o problema na causa é:
( A) o dono da orelha  ( B) o presidente.        (C) os açougueiros.   (D) o menino.

5. No começo, como o homem justifica a sensação que sua orelha estava crescendo?  

6. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) e justifique cada resposta.
(    ) A princípio, a carne de orelha torna-se um benefício para a sociedade.
(    ) O caso do crescimento tornou-se um problema nacional.
(    ) A reação das demais personagens ao crescimento da orelha é de aceitação.
(    ) O escriturários tinha vários amigos no trabalho.

7. O crescimento contínuo das orelhas da personagem é um recurso usado pelo autor para produzir o efeito de humor ou desconforto? Justifique sua resposta.

8. Qual foi a atitude das pessoas quando já tinham se fartado da carne de orelha?

9. Por que a pergunta do menino é o mais tenso da narrativa?

10. Na sua opinião, qual é a intenção do autor ao não definir o que vai acontecer com a personagem?

11. Uma palavra pode ter vários significados, dependendo do contexto. Dê o significado para “perna” em cada frase:
 A orelha saía pela perna da calça.
Não quero nenhum perna-de-calça cercando minhas filhas.
As belas pernas enlouquecem os homens.
Cuidado, a mesa está com a perna quebrada.
A casa está de pernas para o ar.

12. Na sua opinião, esse conto pode ser uma crítica à sociedade?


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